No dia 28 de maio de 2017, a turma da Didática do curso de Pedagogia e a turma de Metodologia do Ensino de Teatro (UFT), participaram de uma aula diferente, uma cine-aula para ver o filme Jonas e o Circo sem lona. Foi um momento especial de trocas e aprendizagens. O filme, tomado como texto, trouxe-nos inúmeros dispositivos para pensarmos a questão da infância, da formação acadêmica e da atuação profissional de professores em distintas instituições de ensino. O debate e os pensamentos seguem latentes! Gratidão Elisângela Dantas por abrir as portas do cinema (outra vez) e fazer deste encontro um encontro potente!
(Profª Drª Amanda Leite)
Jonas e o Circo Sem Lona
por Bruno Carmelo
Jonas é um garoto baiano de 13 anos de idade, vindo de uma família de artistas de circo. Ele herdou a paixão pelas artes circenses, mas não recebe o apoio da própria mãe, que prefere ver o filho longe da pobreza em que vivem. O circo não proporciona retorno financeiro, segundo ela, de modo que seria melhor Jonas concluir os estudos e buscar uma carreira mais estável. Mesmo assim, ele cria seu próprio circo, com pouquíssimos recursos, coordenando-o com o rigor e a vontade de um diretor profissional.
O tom da projeção combina ternura e melancolia. Jonas não é idealizado pelo projeto: ele não é o melhor artista do mundo, nem o garoto mais carismático, tampouco possui uma história excepcional que “mereça virar cinema”. O jovem parece ter sido escolhido por sua condição comum, representando assim tantas outras crianças em condições semelhantes. Existe clara intenção universal neste panorama. Seu pequeno circo, apesar de precário, é organizado com o comprometimento que o garoto não apresenta nos estudos formais.
Nesse sentido, a cineasta faz uma defesa da infância, provando que o garoto considerado irresponsável pela mãe e “mau exemplo” pela professora (“Você não deveria fazer um filme sobre ele”, protesta) é dotado de senso de responsabilidade ímpar, mas aplicado a outras áreas de interesse. Jonas e o Circo Sem Lona contrasta as noções de cultura erudita (“Por que eu preciso conhecer a história do Egito?”, reclama o garoto) e cultura popular (o circo), a infância e a fase adulta, a utopia e a realidade.
A montagem equilibra-se com uma naturalidade exemplar entre esses dois registros. Aliás, todos os quesitos técnicos são de uma simplicidade notável, mas tão rigorosa quanto o circo de Jonas. Os enquadramentos são precisos, a fotografia valoriza a luz natural sem querer embelezar o ambiente paupérrimo. “Por que você está fazendo um filme sobre meu circo?”, pergunta honestamente o garoto, pouco acostumado a ser observado com interesse pelas pessoas ao redor. A resposta é simples e complexa ao mesmo tempo: Paula Gomes diz que seu filme, realizado com equipe pequena e recursos limitados, não é muito diferente do circo de Jonas. Existe, assim, uma cumplicidade entre ambos.
Jonas e o Circo Sem Lona proporciona uma experiência fascinante pelo humanismo carinhoso, capaz de combinar intimismo e ambições sociológicas, observação e intervenção – a diretora chega inclusive a pedir à mãe de Jonas que o deixe partir com o circo do tio. Estamos ao mesmo tempo perto demais do garoto, observando seu choro e seu primeiro beijo, e distantes o suficiente para observar a vida de todos os artistas de circo, todas as pessoas pobres da Bahia, e todos os adultos que, como Jonas, abriram mão de sonhos na infância.